19 janeiro 2008

Daniel Blaufuks contrói "Arquivo" com uma colecção de memórias

"Conservação, erosão, apropriação, esvaziamento, branqueamento, (ir)reprodutibilidade da experiência ou ficcionalização da identidade são algumas das questões levantadas pelas fotografias e instalações que Daniel Blaufuks inaugura hoje, em Lisboa, na Vera Cortês Agência de Arte [Av. 24 de Julho, 54, 1ºEsq. Lx, até 23 de Fevereiro].

Arrumadas sob o título "O Arquivo", todas estas peças recentes jogam "por um lado, com a ideia de conservação e registo, e por outro com a efemeridade dos meios", explica ao DN o artista, que há anos trabalha temáticas como a memória ou o exílio.

Neste caso, Blaufuks abordou as diferenças e os cruzamentos entre "arquivo público e privado", conduzindo o olhar do espectador pelas seis salas de modo a que, no final, se questione as próprias noções de tempo e espaço, geral e particular, real e ficção.

Ao colocar lado a lado fotografias suas e imagens ou diapositivos de que se apropriou, o artista questiona, no limite, a integração de "arquivos alheios" nas memórias pessoais.

Se as cassetes e o computador arcaico evocados na primeira sala recordam o problema da duração dos suportes de registo, já as imagens da série Memento Mori, que tenta ordenar alfabeticamente lápides funerárias judias onde apenas se lêem os apelidos, conduzem a análise para o campo simbólico da vida e da morte. "Qualquer pessoa é um arquivo e, quando alguém morre, há um arquivo que desaparece", lembra Daniel Blaufuks.

Em O Arquivista, auto-retratou- -se num banho ritual fúnebre, levando ao extremo a "ideia de se arquivar a si próprio numa caixa". Primal Memory cruza diapositivos idílicos de África e paisagens retiradas a Shoah, filme sobre o Holocausto de Claude Lanzmann, em busca do rasto da memória.

Nos seis pequenos filmes exibidos em iPods, seis pessoas falam do que se lembram, partilhando memórias imediatas que seguem o ritmo do acaso. E na série Álbum, as fotografias esboçam a história possível de alguém que coleccionou objectos únicos como postais, recortes ou bilhetes de espectáculos.

Com algumas referências a séries anteriores, como Terezín ou A Perfect Day, "O Arquivo" reitera, afinal, a impossibilidade de conclusão de um arquivo. No final da exposição será lançado um livro de autor, com textos de Blaufuks, Gonçalo M. Tavares ou Eduardo Prado Coelho."

Fonte: DN 11-02-08

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