"Conservação, erosão, apropriação, esvaziamento, branqueamento, (ir)reprodutibilidade da experiência ou ficcionalização da identidade são algumas das questões levantadas pelas fotografias e instalações que Daniel Blaufuks inaugura hoje, em Lisboa, na Vera Cortês Agência de Arte [Av. 24 de Julho, 54, 1ºEsq. Lx, até 23 de Fevereiro].
Arrumadas sob o título "O Arquivo", todas estas peças recentes jogam "por um lado, com a ideia de conservação e registo, e por outro com a efemeridade dos meios", explica ao DN o artista, que há anos trabalha temáticas como a memória ou o exílio.
Neste caso, Blaufuks abordou as diferenças e os cruzamentos entre "arquivo público e privado", conduzindo o olhar do espectador pelas seis salas de modo a que, no final, se questione as próprias noções de tempo e espaço, geral e particular, real e ficção.
Ao colocar lado a lado fotografias suas e imagens ou diapositivos de que se apropriou, o artista questiona, no limite, a integração de "arquivos alheios" nas memórias pessoais.
Se as cassetes e o computador arcaico evocados na primeira sala recordam o problema da duração dos suportes de registo, já as imagens da série Memento Mori, que tenta ordenar alfabeticamente lápides funerárias judias onde apenas se lêem os apelidos, conduzem a análise para o campo simbólico da vida e da morte. "Qualquer pessoa é um arquivo e, quando alguém morre, há um arquivo que desaparece", lembra Daniel Blaufuks.
Em O Arquivista, auto-retratou- -se num banho ritual fúnebre, levando ao extremo a "ideia de se arquivar a si próprio numa caixa". Primal Memory cruza diapositivos idílicos de África e paisagens retiradas a Shoah, filme sobre o Holocausto de Claude Lanzmann, em busca do rasto da memória.
Nos seis pequenos filmes exibidos em iPods, seis pessoas falam do que se lembram, partilhando memórias imediatas que seguem o ritmo do acaso. E na série Álbum, as fotografias esboçam a história possível de alguém que coleccionou objectos únicos como postais, recortes ou bilhetes de espectáculos.
Com algumas referências a séries anteriores, como Terezín ou A Perfect Day, "O Arquivo" reitera, afinal, a impossibilidade de conclusão de um arquivo. No final da exposição será lançado um livro de autor, com textos de Blaufuks, Gonçalo M. Tavares ou Eduardo Prado Coelho."
19 janeiro 2008
Daniel Blaufuks contrói "Arquivo" com uma colecção de memórias
Fonte: DN 11-02-08
Termos de acesso: Apropriação, Armazenamento, Arquivo Electrónico, Arquivos, Conservação, Eventos, Exposição
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